domingo, dezembro 23, 2012

Filme: O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

Entrei no cinema para assistir O Hobbit: Uma Jornada Inesperada com baixa expectativas, porém grandes esperanças. E me alivia o fato de que eu não esperava demais.

Em O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, o pequeno em questão não é Frodo Bolseiro. Na época em que a história se passa, Frodo nem mesmo tinha nascido. É seu tio, o hobbit Bilbo Bolseiro (aquele que, no primeiro O Senhor dos Anéis, lhe dá o Anel do Poder) que empreende a tal jornada, na companhia de treze anões e um mago.

Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) é um hobbit respeitável. Apesar de ser em parte Tûk (uma família hobbitesca nem tão admirável), nunca teve nem mesmo uma aventura desde o dia em que nasceu, e em sua toca, O Bolsão, vive uma vida plena. Isso muda quando o mago Gandalf (Ian McKellen), um velho amigo do agora falecido Velho Tûk, aparece na vizinhança. Ele busca alguém para juntar-se a ele em uma aventura - os Bolseiros, sempre muito previsíveis -, e Bilbo, é claro, recusa. Ele não poderia colocar a boa reputação de sua família a perder, muito menos gostaria de se atrasar para o jantar. Ele descobre mais sobre a aventura a que Gandalf se refere quando treze anões e o próprio mago vão à sua casa - sem convite! - na hora do chá.

Os treze anões, dentre os quais o líder é Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage), e suas famílias moravam na Montanha Solitária, sob a liderança do avô de Thorin, dono de muito ouro. Então o dragão Smaug, cobiçando seu tesouro, atacou e tomou a montanha, e todos os anões que lá viviam em sociedade tiveram de ir para outro lugar. Agora, Thorin e sua companhia de anões queriam, com a ajuda de Gandalf, retomar a Montanha Solitária. Para tal, precisariam de um ladrão, e o mago indicava Bilbo Bolseiro.

Bilbo inicialmente negou, mas seu sangue de Tûk falou mais alto e ele partiu com os anões, no caminho até a Montanha Solitária vivendo muitas aventuras. Mas ele terá de se provar um bom ladrão se quiser uma parte daquele ouro, e um melhor ainda para continuar vivo. 

Talvez por ser uma grande fã de J. R. R. Tolkien, sem dúvida meu autor preferido, amar com todo o meu coração sua obra recém adaptada para o cinema, achar que o livro merecia ser transformado num filme escorreito, talvez por tudo isso eu tenha sido dura demais em minha avaliação. Nem por isso, aquele que não leu o livro deixará de concordar com alguns de meus argumentos.

Minha primeira decepção - e a possível causadora de todas as outras - é decorrente da decisão de transformar as modestas 299 páginas de O Hobbit em uma trilogia. Num único filme, seria mais do que possível apresentar todas as situações vividas no livro, nem que resumidas (afinal, ninguém gosta de assistir a diálogos de 15 minutos). Ao invés disso, o que o diretor Peter Jackson fez foi seguir um roteiro cheio de "invenções", cenas longas e personagens nada importantes na obra de Tolkien.

Jackson não inventa nenhum personagem. A invenção mesmo é nos papéis que alguns deles exercem. Azog, o Orc, que por algum motivo é apelidado no longa de Pálido, é o grande vilão do primeiro filme, e Radagast, o Castanho, contracena com um porco-espinho uma cena um tanto quanto longa demais. E por que tudo isso? Porque não tinha o que colocar. Em vez de compactar cada cena para trazer mais ação para o filme, apenas diálogos decisivos e, basicamente, mostrar em no máximo três horas tudo o que interessava, o enredo conta com essas cenas longas. Além disso, Gandalf tem uma conversa com Elrond, Saruman e Galadriel, sendo que só o primeiro aparece no livro. Eles relacionam a jornada dos anões à guerra iminente contra Sauron, e em momento algum Tolkien menciona alguma relação entre os dois eventos. Pode ser que tenha sim havido alguma conexão, mas é muito provável que não.

Em português claro, o que Jackson fez? Encheu linguiça, em vez de usar o tempo "de sobra" para aprofundar os numerosos personagens (afinal treze anões não é pouco). No fim do filme, não me senti próxima de nenhum, e não me afeiçoei a ninguém. Ainda a respeito dos personagens, com certeza desaprovo a forma como Thorin Escudo de Carvalho foi retratado, um anão austero e hostil.

Eu sei que literatura e cinema são linguagens completamente diferentes e que muitas vezes não é possível ou viável fazer um filme exatamente como o livro em que se baseia. Também sei que não há obrigação nenhuma por parte dos roteiristas e diretor de seguir a obra literária à risca. Mas O Hobbit é um clássico, nunca foi filmado antes e vem acumulando milhões de fãs em seus não tão poucos anos de existência, e Tolkien foi um gênio. Já dizia o Sunday Times na época da publicação de O Senhor dos Anéis, "O mundo está dividido entre aqueles que leram O Senhor dos Anéis e aqueles que ainda vão ler". Por respeito não só ao aclamado autor, mas também aos numerosos fãs, acho que deveriam ter seguido mais o livro, ao invés de tentar inovar. Foi como fazer Catherine casar-se com Heathcliff.

Mas deixando um pouco a questão livro/filme, Peter Jackson inovou em mais um sentido. Ele filmou O Hobbit em 48 frames por segundo (48fps). O que isso significa? Bem, eu não sou especialista, e tudo o que sei é o que aprendi com o vídeo de Pablo Villaça, do Cinema em Cena, e com o texto do cineasta João Papa, publicado no mesmo blog. Não sou especialista e tenho medo de explicar algo errado, então sinta-se a vontade para conferir o vídeo e texto.

De qualquer forma, farei um resumo singelo do que é mais importante: a forma convencional de se filmar um longa chama-se 24fps. Peter Jackson filmou O Hobbit a 48fps, fazendo algo inédito: a junção dos 48fps com o 3D.

Um longa filmado a 48 frames por segundo dá, por si só, a impressão de ser tridimencional. Um filme a 48fps e 3D poderia ser uma maravilha ou um desastre, e não cabe a mim dizer em qual deles resultou, mas posso dar minha opinião. Peter Jackson achava que o público que não entende de cinema não notaria a diferença. Eu acho que, mesmo que não ocorra àqueles que não sabem dos 48fps "tem alguma coisa errada!", o público "leigo" notará algo diferente. Não me pareceu ruim, e acho que aos outros também não parecerá. Minha maior crítica em relação à forma de filmagem é que obrigou Jackson a deixar o filme mais claro, pois tanto para o 3D quanto os 48fps se precisa de claridade, e algumas cenas exigiam mais obscuridade.

Para conferir os 48fps, escolha no cinema a opção do filme em HFR (High Frame Rate) e 3D.

Apesar de não ter elogiado muito O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, não aconselhei em momento algum que não se fosse assistir ao filme. Acho que valeria a pena não só para presenciar essa nova invenção do cinema, 3D a 48fps, mas também pelo maravilhoso universo que se criou, pelas notáveis atuações e os incríveis cenários (até a toca dos orcs ficou bonita, ou pode ter sido apenas os meus óculos com menos grau do que deviam ter). Embora eu não tenha mencionado durante a resenha esses últimos dois, são os pontos que, na minha opinião, mais mereceram elogio no filme todo.

Mesmo que eu não tenha ficado satisfeita com o que se fez de O Hobbit, acho que muitos vão adorar. Aqueles que gostariam de ver uma adaptação colada no filme, porém, vão aos cinemas prontos para um possível - quase iminente - decepção.

Até amanhã,
Gih


2 comentários:

  1. Apesar de discordar, eu tenho que dizer que essa resenha ficou muito boa.
    O Hobbit é, dentre os livros que eu li do Tolkien, meu favorito. Adoro o clima leve da maior parte do livro e acho o Bilbo muito mais carismático do que o Frodo como protagonista. Quando descobri que iam fazer do meu livro favorito uma trilogia, eu senti medo. Muito medo! Ainda assim, eu não sai decepcionada do cinema.
    Jackson, como uma amiga minha disse, é um dos poucos diretores capazes de fazer um filme com gente andando ficar interessante. De fato, ele encheu MUITA linguiça, mas não acho que ele tenha escapado do universo criado pelo Tolkien. Apesar de ter ficado, em certos momentos, um pouco parado demais, eu realmente aguentaria mais horas e horas de filme com alegria. Não tenho essa necessidade enorme de ação e gosto das cenas longas e cheias de falas.
    Continuo sim com MUITO medo do que está por vir, mas o primeiro filme realmente me surpreendeu de modo positivo. Quanto as adaptações, a gente não pode negar que sempre são uma tentativa de deixar o filem mais atrativo para o público geral, e eu realmente fiquei feliz em ver que elas não trucidaram e enterraram toda a essência da coisa - por mais que eu concorde que também não melhoraram.
    Enfim, realmente adorei a resenha! Parabéns pelo blog.
    Abraço,
    Naiara
    www.universodediva.blogspot.com

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    1. Oi!
      Que bom que gostou da resenha!
      Bem, é verdade, Jackson merece algum crédito. Afinal, além de ter filmado O Senhor dos Anéis, que muitos consideravam infilmável, aceitou o desafio de O Hobbit, que é muito diferente do primeiro. É, como você disse, mais leve.
      Acho que influenciou um pouco a minha resenha o fato de, como disse, gostar muito do livro, e talvez eu tenha, por isso, esperado uma adaptação completamente colada no livro.
      Vamos torcer pelo melhor nos próximos dois!
      Beijos,
      Gih

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